Exposição: Encomendas Namban – Os Portugueses no Japão na Idade Moderna
O Museu do Oriente vai realizar a exposição temporária “Encomendas Namban – Os Portugueses no Japão na Idade Moderna”. Na exposição estará patente uma Colcha Indo-Portuguesa pertencente ao espólio da Casa-Museu. É uma oportunidade para conhecer a referida peça que não se encontra exposta ao público na Casa-Museu.
Local: Museu do Oriente, Lisboa
Data: 17 de dezembro de 2010 e 31 de maio de 2011
Entrada do catálogo da exposição:
“Colcha Índia (Bengala), século XVII Algodão e seda A. 326 x L. 280 cm Fundação Medeiros e Almeida, Inv.1363
No contexto da presença portuguesa no sub-continente indiano, a historiografia tem apontado as regiões de Bengala e do Guzarate como os centros de produção mais importantes dos têxteis bordados destinados ao mercado europeu. Esta colcha pertence ao grupo de bordados feitos em Bengala, na região de Ugolim (Hugli) e Satigão, no início do século XVII. De dimensão apreciável, utiliza como material base o algodão proveniente, presumivelmente, do Guzarate, sendo o bordado executado em seda selvagem.
À semelhança de algumas outras, também o presente exemplar apresenta uma iconografia rica e complexa tanto a nível dos referentes textuais e visuais utilizados – a Bíblia e as Metamorfoses de Ovídeo –, como na associação simbólica que daí resulta. Assim, o medalhão central é preenchido com uma imagem que remete para a passagem bíblica relativa à Justiça de Salomão. É a partir deste campo central da colcha que se dispõem outras cenas bíblicas e mitológicas, designadamente Píramo e Tisbe, Júpiter e Alcmena, o Julgamento de Páris e Judite e Holofernes. Inseridas nos cantos e no meio de cada faixa observamos representações de sete deuses greco-latinos como planetas, assim como, também neste emolduramento realizado a partir do campo central, cenas de caça, soldados e uma águia bicéfala. É precisamente neste registo que podemos visualizar o apontamento de uma caravela portuguesa acompanhada de monstros marinhos, bem como figuras vestidas à maneira europeia, permitindo-nos cruzar este documento visual com outros presentes na exposição.
A inclusão da águia bicéfala, símbolo de realeza em diferentes contextos civilizacionais, e da caça, atividade associada à aristocracia em várias das sociedades asiáticas com que os Portugueses entraram em contacto, são certamente elementos importantes para uma tentativa de entendimento das mensagens que uma peça como esta encerra. Para esse efeito há também, e sobretudo, que fazer uma leitura integrada dos restantes elementos figurativos e tentar enquadrar esta produção têxtil no universo mais alargado dos objetos tridimensionais lacados e dourados que podem ser associados à zona do Golfo de Bengala, nomeadamente aos antigos reinos do Pegu e do Sião. Uns e outros, com maior ou menor grau de complexificação, remetem para uma encomenda que poderemos classificar de “erudita” ou “esclarecida”, se atentarmos às fontes textuais que estão na sua origem. Curiosamente, ambos se associam a um território sobre o qual o estudo da presença portuguesa apresenta ainda lacunas significativas em termos de conhecimento histórico, e que corresponde a uma vasta área que estava longe da alçada da Coroa, atraindo mercadores privados e soldados. Residirá aqui, porventura, uma parte fundamental da compreensão de uma dinâmica de produção e circulação de artefactos que se afigura com contornos muito próprios.”
Alexandra Curvelo
Bibliografia:
CARVALHO, 2001; KARL, 2003
Para mais informações: http://www.museudooriente.pt/1098/encomendas-namban-os-portugueses-no-japao-da-idade-moderna.htm