Falecimento do Arquiteto João de Almeida (1927-2020)
COMUNICADO
É com o maior desgosto que os colaboradores e o Conselho Administrativo da Fundação Medeiros e Almeida comunicam que ocorreu hoje o falecimento do arquiteto João de Almeida, administrador desta fundação desde a sua constituição.
João de Almeida teve um percurso notável e invulgar havendo duas facetas distintas na sua vida, como sacerdote católico notabilizou-se pela sua inteira dedicação aos não protegidos e, posteriormente, como aquiteto foi um dos impulsionadores do MRAR – Movimento de Renovação da Arquitetura Religiosa. No âmbito da arquitetura civil recebeu ainda vários prémios de grande significado.
Às artes plásticas, como pintor, dedicou os últimos anos da sua vida realizando com o maior sucesso várias exposições em Portugal e no estrangeiro.
Nota biográfica:
João Paiva Raposo de Almeida nasceu em Lisboa em Novembro de 1927 e cresceu no seio de uma família em que o gosto pela arte era uma constante – família de origem açoriana do lado do pai, com duas gerações de médicos e família de empresários “africanistas”, com três gerações fortemente ligadas a Moçambique, do lado da mãe. De uma forma ou de outra, Açores e África, sempre muito presentes, – com as suas sensibilidades, as suas formas de estar, a sua visão do mundo, – deixaram marca.
Igualmente deixou marca mais tarde, – após uma primeira passagem de dois anos pelo curso de arquitetura em Lisboa – um longo estágio em Basileia, na Suíça, com o Arq. Hermann Baur, consagrado autor de numerosos projetos de arquitetura sacra, área que então interessava particularmente a João de Almeida. Uma estadia de um ano em Paris, em 1949-50, precedera o estágio na Suíça, e fora preenchida com demoradas visitas de estudo aos grandes museus.
Hermann Baur foi para o jovem estudante um verdadeiro Mestre, como nunca tivera nem viria a ter no ensino oficial. Homem de cultura, chamava grandes artistas internacionais a colaborar nos seus projetos e em sua casa João de Almeida conviveu, entre muitos outros, com Hans Arp, o fundador do movimento DADA, Alfred Manessier, Ferdinand Gehr, Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes. Por lá passaram, levados por João de Almeida nas décadas de 50 e 60, Nuno Teotónio Pereira, Nuno Portas, Diogo Lino Pimentel, Pedro Ferreira Pinto (mais tarde seu sócio), José Escada, Manuel Cargaleiro e outros jovens estudantes, arquitetos e artistas que entretanto se tinham agrupado no Movimento de Renovação da Arte Religiosa, o MRAR. Viajaram juntos por França, Suíça e Alemanha e visitaram exaustivamente o que naquele âmbito se fazia de inovador, o que viria a influenciar a sua criatividade em Portugal.
Num período de grande pujança da Igreja Católica, em que se antecipava já a renovação que o Concílio Vaticano II viria a consolidar e se multiplicavam na Europa as chamadas “vocações tardias” de jovens universitários e licenciados, João de Almeida decide estudar teologia e abraçar o sacerdócio, nesse estatuto permanecendo desde 1958 até 1967, ano em que apresenta a sua tese de arquitetura na Escola de Lisboa no final de um curso do qual, ao longo desses anos, nunca tinha desistido.
Essa tese foi o projeto da igreja paroquial de Paço d’Arcos. Já anos antes, em 1954, ainda estudante, projetara, a convite do Patriarcado, a Igreja de S.to António de Moscavide, em parceria com António Freitas Leal, em que participaram com diversas obras os artistas Manuel Cargaleiro, José Escada e Lagoa Henriques.
Na área do design realizou nos anos 50 e 60 trabalhos de ourivesaria sacra e nas décadas de 80/90 projetos de mobiliário.
Co-autor ao longo dos anos de numerosos projetos no âmbito da sua sociedade de arquitetos assinou entre outros o da renovação do Museu Nacional de Arte Antiga, o de um condomínio privado no centro histórico de Lisboa, na zona da Academia das Ciências, ao qual em 1990 foi atribuído o Prémio Valmor, o da reabilitação e reconversão do Convento das Bernardas em Lisboa, o da renovação parcial dos Paços do Concelho de Lisboa após o incêndio de 1995, projeto que teve a colaboração no campo das artes plásticas do pintor Jorge Martins e o do edifício administrativo da Expo 98 no Parque das Nações, galardoado com uma Menção Honrosa do Prémio Valmor.
Na Fundação Medeiros e Almeida, criada em 1972 pelo seu tio António Medeiros e Almeida (1895-1986) com o objectivo de conservar e expor ao público a sua valiosa coleção de arte, exerceu as funções de administrador e consultor museográfico.
Na sua juventude e antes de abraçar os estudos de arquitetura, cursou pintura na Escola de Belas Artes de Lisboa. Trocada esta pela arquitetura nos últimos anos, desde 2002, volta a dedicar-se-lhe expondo com sucesso em Portugal e no estrangeiro.