Cómodas D. João V (par)

Cómodas D. João V (par)

Par de cómodas em madeira de nogueira entalhada e dourada com tampo de mármore.

Lados e frente bojudos, pernas altas e galbadas, joelhos hipertrofiados, pés em garra e bola, tampo de mármore original, de azul lagoa de Estremoz, cinzento vaiado de branco.
Na frente encaixam quatro gavetas iguais, limitadas por esquadria dourada. O mesmo dourado sublinha a decoração concheada aposta no avental volumoso baixo e vazados que se estende para os lados, bem como as folhas de acanto estilizadas que sublinham os joelhos. Acabamento de polimento a goma-laca e cera.

As ferragens em bronze dourado são cinzeladas ainda em baixo relevo, de argola fixa sendo decoradas com folhas de vinha.

Cómodas de acentuado perfil ondulado característico do estilo barroco do período do reinado de D. João V, durante o qual o mobiliário se caracteriza pelas marcadas formas ondulantes, a exuberância da talha que se apresenta volumosa e o uso do douramento dos motivos decorativos, das pernas galbadas com joelhos salientes e pelo gosto dos pés em bola envolvida por garra de leão, de palmípede ou de ave de rapina, como neste caso.

 

 

A talha quase sempre dourada e volumosa espalha-se pelo avental acentuado das cómodas e pelos joelhos das mesmas. O gosto pela simetria sempre presente neste período reflecte-se na cartela vazada do avental que se estabelece como eixo central vertical a partir do qual se desenvolve o resto da decoração (também vazada) de forma simétrica. Concheados, acantos estilizados, enrolamentos e asas de morcego fazem parte da gramática decorativa barroca destas peças, plenamente integradas na época D. João V.

Neste período em que um crescente gosto pelas madeiras exóticas como o pau-santo vindo do Brasil se faz sentir, persiste também o uso das madeiras indígenas como a nogueira, que coexiste com as exóticas. De origem autóctone, é também o mármore de Estremoz usado no tampo na variante cinzento raiado de branco.

Apesar das características atrás referidas, que a remetem para o estilo D. João V, são porém já visíveis, incipientes assimetrias na decoração dos saiais laterais, preconizando um novo período que se aproximava: o rocaille de formas acentuadamente assimétricas.

 

Proveniência:

Segundo tradição oral da família, o par de cómodas foi adquirido pela mulher de Jorge de Mello, D. Maria Eugénia d’Orey da Cunha de Mendonça e Menezes (n.1925), em Portalegre num antiquário.
O par esteve a uso na Herdade do Peral, Alentejo, de Jorge Augusto Caetano da Silva José de Mello (1921-2013).
Adquiridas por Medeiros e Almeida a Francisco Marques da Silva (Rua Eduardo Coelho, nº 25, 1º d.to), Lisboa, em 8 de Agosto de 1977, por 1.000.000$00.

 

Cristina Carvalho

Casa-Museu Medeiros e Almeida

 

NOTA: A investigação é um trabalho permanentemente em curso. Caso tenha alguma informação ou queira colocar alguma questão a propósito deste texto, por favor contacte-nos através do correio eletrónico: info@casa-museumedeirosealmeida.pt

Autor

Desconhecido

Data

Séc. XVIII (início) - época D. João V (1706-1750)

Local, País

Portalegre, Portugal

Materiais

Nogueira entalhada e dourada, bronze dourado e mármore de Azul da Lagoa (Estremoz)

Dimensões

Alt. 96cm x Comp. 130cm x Prof. 77cm

Category
Mobiliário Português