Leque plissado “O Rapto das Sabinas”

Leque de folha dupla plissada em pele, com remate em papel dourado.

O anverso apresenta a representação do episódio lendário “O Rapto das Sabinas”, que diz respeito à história da génese de Roma e relata como os seus fundadores sequestraram e tomaram por esposas as mulheres das famílias sabinas vizinhas. A cena aqui representada reproduz a obra homónima de Pietro da Cortona (Pietro Berrettini, Cortona 1597 – Roma 1669), pintada em 1630 (Pinacoteca Capitolina, Inv. PC 137).

Esta constitui uma temática frequentemente utilizada em folhas de leques, conhecendo-se vários outros exemplares inspirados na obra de Cortona: o do Palais Galliera – Musée de la Mode de la Ville de Paris (GAL 1993.300.1AB); o do Fitzwilliam Museum, em Cambridge (Inv. M.321-1985); o da Fundação Lázaro Galdiano, em Madrid (Inv. 4320); ou o da coleção particular de Farina Sternke. Consta que Pietro da Cortona terá inclusivamente pintado um dos leques em exibição na exposição de leques no Draper’s Hall, em 1878 (De Vere Green, 1979:145).

No reverso da folha figura uma temática menos comummente representada em leques: a história de Ciparisso. Tal como narra Ovídio (Livro X, 106-142), Ciparisso era um belo jovem, por quem Apolo se apaixona e oferece um veado. Atingindo inadvertidamente o veado com um dos seus dardos, Ciparisso surge representado lamentando a sua morte. Conta a lenda que, acometido de uma profunda tristeza, o jovem se transformaria de seguida em cipreste.

A armação em tartaruga esculpida possui aplicações de metal dourado, prateado e acobreado. As guardas apresentam, invulgarmente, a aplicação de elementos de joalharia característicos da produção portuguesa de setecentos, em prata cravejada de topázios imperiais de diferentes talhes antigos (em mesa, rosa e brilhante). O rebite é metálico, com topázios circulares encastrados em cada face.

Proveniência:

Adquirido a Francisco Marques da Silva, Rua Eduardo Coelho 25, Lisboa, a 21 de outubro de 1977.

Nota: Os nossos agradecimentos a Farina Sternke e a Pierre-Henri Biger, pela colaboração no estudo desta peça.

Joana Ferreira
Museu Medeiros e Almeida