Inauguração: 4 Junho, 3ª feira – 18.30h
Patente: 5 Junho – 6 Julho
Compreender o porquê da forma é um jogo cromossómico de combinações infindáveis para o qual nem sempre as leis da genética encontram justificação,
sentido e nexo…. surge de geração espontânea, é reduto de processos, é semiótica, anacrónica ou mera existência, é obra e é arte, para o qual o valor público é atribuído e dimensionado quando se torna existência.
Apropriando expressões de José Mouga, fecundação, gravidez e parto são nomeações da própria criação e curiosas para a leitura do seu espólio.
Talvez a fecundação corresponda a momentos de incerteza, de profundo e violento confronto, de ideias, deformações e cargas incutidas em gónadas puras, geminando vislumbres do que virá a ser.
Da fecundação surge o gesto, o elemento que estará na base da forma…
“O gesto que o artista procura inscrever violentamente na pintura, num permanente desafio às regras tradicionais da harmonia, gerando um conflito propositado, instaurando a si próprio um jogo difícil e assumido, uma luta consciente contra o confortável e o agradável (…)”.
Sílvia Chicó, 1984
Talvez a gravidez corresponda aos processo de experimentação, réplicas de elementos num tempo, aos desenhos e cadernos, ao estudo exaustivo de cada gesto e traço, mesmo aqueles que parecem mais desviados mas que manifestarão o seu sentido.
Da gravidez surge a cor, o elemento assumido na forma…
“Possuído pela cor, desenha com a cor. A direcção da pincelada e a zona onde é colocada deixam de ser predeterminadas. O dinamismo cromático é acompanhado por um abrir de malhas estruturantes. As manchas alargam-se.
(…) muitas rectas se tornam curvas tensas, conjugadas com as manchas. Esta conjugação é mais ou menos assumida.”
Rui Mário Gonçalves, 1982
Talvez do parto emirjam aquelas obras para as quais olhamos e percebemos que está tudo lá, são completas, construídas e completadas por um ou mais processos de existência, de experiência e procura. Jorros explosivos do tempo percorrido, catarses pictóricas que culminam a repetição de traços, gestos, formas e cores.
E do parto surge um reduto, a forma pela qual se tenta perceber a norma…
“Se alguém quiser prender estes trabalhos de José Mouga só é possível recorrendo à brevidade. Na brevidade reside a apreensão estética e a análise espaço-temporal que lhe é envolvente. A brevidade é a norma. Vivem estas pinturas (…) dos seus rápidos e brilhantes movimentos (…) fazem apelo a uma comunhão aberta à totalidade das coisas.”
João Miguel Fernandes, 198…
Da tentativa de compreender e trazer à luz a criação de um homem expressionista e avante do seu tempo em Portugal, assumindo algumas daquelas normas que fez forma e palavras, SobreTela é uma antologia que surge do espólio de José Mouga.
Através de pinturas de médio e grande formato, ilustrativas do período que decorre desde a década de 70 (a sua chegada a Portugal) até 2015, apresentam-se trabalhos considerados marcantes de séries que representam diferentes momentos e compromissos com a imagem, com o tempo e com o espaço – digamos diferentes fecundações, gravidezes e partos, testemunhos físicos dos percursos de vida e obra do artista.
Luís Sá Nogueira
BIOGRAFIA
José Mouga nasceu em Viseu em 1942. Licenciado em Pintura pela ESBAP (c/Louvor e Distinção – Prémio de Desenho legado Rodrigues Júnior). Entre 1969-76 reside em Londres; Pós – Graduação em Pintura na St. Martin’s School of Art (Londres) como Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian; 1973-76 Director da Hoya Gallery, Londres; Assistente de Pintura na Escola Politécnica de Newcastle-upon-Tyne. 1976 Regressa a Portugal. Foi durante vários anos membro do Conselho técnico da SNBA. 1980-1993 foi responsável pelo Departamento de Pintura no Ar.co e membro da Direcção. Tem o título de Professor Agregado da FBAUL. Professor e Coordenador do Curso de Pintura do IAO, da Universidade Autónoma de Lisboa.
BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL
“Um pintor no Porto”, 1964 – Júlio Giraldes;
“José Mouga, o Pintor está de volta”, 1981 – Nelson Dimaggio;
“Uma nova presença na pintura portuguesa”, 1981, Silvía Chicó;
“José Mouga, Sentir o olhar”, 1982 – João Miguel Fernbando Jorge;
“A arte de José Mouga”, 1983 – Rui Mário Gonçalves;
“O Bestiário”, 1987 – Eduardo Pais Barroso;
“Os ímpetos da Pintura, 1988 – Emídio Rosa de Oliveira;
“Mouga, a Diferença”, 1988 – José Luís Porfírio;
“Portuguese 20th Century Artist”- Michael Tannock;
“Dicionário de Pintores e Escultores”- Fernando Pamplona;
” Paisagem com Figuras” – João Miguel Fernandes Jorge;
“História da Arte em Portugal” , Enciclopédia Alfa;
” 75 Artistas Portugueses”, Margarida Botelho;
“Cem Pintores Portugueses para o século XX”, Rui Mário Gonçalves;
“50 anos Arte Portuguesa”, Ana Filipa Candeias.
Representado em vários museus nacionais e em colecções particulares estrangeiras e portuguesas, nomeadamente: Casa da Cerca, Almada, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Luso Americana, Fundação PLMJ, Museu do Caramulo/Fundação Abel de Lacerda, British Council, Secretaria de Estado da Cultura, Secretaria de Estado do Emprego, Instituto Camões, Epal, Fundação Portuguesa de Cardiologia, Nestlé Portuguesa, Conservatório Nacional, Caixa Geral de Depósitos, União de Bancos, Banco Comercial Português e Reitoria da Universidade de Lisboa.
FICHA TÉCNICA
Selecção das obras: Margarida Dias; Ivo Pereira da Silva
Texto: Luís Sá Nogueira
Design Gráfico: Luis Chimeno Garrido
Consultadoria Artística e Apoio à Produção: Luiz Antunes para Heurtebise
Agradecimento Especial: Sofia e João Assis
Sala de Exposições Temporárias
5 Junho - 6 Julho 2019
2ª feira a sábado - 10h - 17h
Entrada Livre (só exposição temporária)