Relógio de mesa musical, c. 1735

Relógio de mesa musical

Charles Cabrier II (ativo 1726-1772)

Londres, reinado Jorge II, c.1735

Carvalho, laca, latão, aço e vidro

Alt. 99 cm x Comp. 51,5 cm x Larg. 33 cm

 

Entre o variado acervo de relógios da Casa-Museu, contam-se alguns exemplares da afamada arte de relojoaria inglesa que, no século XVIII, atingiu o seu auge.

O relógio musical de Charles Cabrier é um exemplar que se destaca pelo cuidado e beleza da sua caixa bem como pela “complicada” técnica.

 

Relógio de mesa musical com caixa em carvalho simulando a estrutura de um pagode chinês, decorada com motivos em chinoiserie ao gosto em voga na Europa do século XVIII.

A caixa é lacada a verde-escuro apresentando diversas reservas, separadas por elementos entrelaçados, decoradas com pintura dourada relevada, desenhando paisagens de sabor orientalizante com pagodes, pavilhões, pontes, cursos de água, árvores, rochas ornamentais e montanhas.

A sociedade hanoveriana tinha especial predileção pelos trabalhos em laca pela espetacularidade criada e pela tradução de status, investindo em peças lacadas de aparato como é o caso deste relógio da época do rei Jorge II (Hanover).

 

Esta tipologia, existente entre finais do século XVII e meados do século XVIII, de relógio de mesa, em caixa retangular, portátil (com pegas, neste caso laterais), de pêndulo é conhecida em Inglaterra como “bracket clock” sendo uma das mais apreciadas. Por definição, são relógios de repetição, funcionalidade que era utilizada quando não existia eletricidade, para se saber as horas – por exemplo durante a noite – por meio de toques, tendo ainda a possibilidade de desligar este som.

 

O mostrador típico inglês, em latão polido, granitado, prateado e dourado tem numeração romana e árabe e dois mostradores subsidiários: STRIKE/SILENT (Toque/Silêncio) e CHIME/NOT CHIME (Com carrilhão/Sem carrilhão), indicação de dia do mês (calendário mensal), falso pêndulo (para verificar se está em funcionamento) e ponteiros em aço azulado, de decoração coeva.

A encimar o mostrador, um arco onde se destaca a assinatura latinizada do autor (denunciando um certo passadismo pois a latinização dos nomes é mais própria da época de seu pai): CAROLUS CABRIER LONDINI, rodeada pelos vinte e quatro temas musicais e respetivo ponteiro que seleciona a música a tocar.

O movimento deste relógio apresenta complicações sonoras de grande qualidade; uma campainha toca as horas, tem opção de silenciar o toque das horas e/ou das músicas e o carrilhão toca a música selecionada de três em três horas (às três, seis, nove e doze horas) ou a pedido acionando um puxador lateral.

As músicas são tocadas pelas treze campainhas que compõem o carrilhão, sendo cada uma percutida por dois martelos (26).

Os temas musicais dividem-se por dois rolos amovíveis com doze músicas cada:

Nº1 – March (3), Cottilion (3), Virgine (1), Minuetto (3), Cicaro (1) e Aria (1) /

Nº2 – Preludio (1), Rigadon (1), Minuetto (4), Giga (3), Gavotta (1), Burrea (1) e Black Joak (1).

A base da caixa tem uma gaveta própria, que se acede pelo lado, para o rolo que não está a uso.

 

 

A platina traseira, visível por porta envidraçada, é totalmente decorada com profusa gravação de enrolamentos vegetalistas que envolvem uma composição com uma cesta com frutos rodeada de pássaros e anjos músicos, ostentando ainda no terço inferior destacada cartela com a assinatura do autor semelhante ao mostrador: Carolus Cabrier LONDINI.

 

Charles Cabrier II foi aprendiz de seu pai, o também relojoeiro Charles Cabrier I que, sendo huguenote (o nome de família era Gabrier), se mudou para Londres procedendo de Lyon após a revogação do Édito de Nantes (Henrique IV, 1598), pelo rei Luís XIV, em 1685. Em 1726 Charles foi admitido na Clockmaker’s Company tendo sido elevado a mestre em 1757. O filho, Charles Cabrier III também foi relojoeiro sendo porém Charles II que se destacou enquanto um dos mais importantes relojoeiros de Londres, de meados do século XVIII, com fabrico para o mercado interno e de exportação, sendo este exemplar, pela sua complexidade mecânica e elaborada apresentação estética, prova disso.

 

Proveniência:

O relógio pertenceu à colecção de James Armand Edmond de Rothschild (1878-1957), proprietário de Waddesdon Manor, um palácio rural inglês mandado erguer pelo Barão Ferdinand de Rothschild, em 1874, situado em Waddesdon, Buckinghamshire, Inglaterra.

O relógio foi vendido por Dorothy Mathilde (Pinto) de Rothschild (1895-1988) após a morte do marido.

Medeiros e Almeida adquiriu a peça em leilão da Christie’s, Londres; “English Clocks and Objects of Art – Fine English Furniture, Tapestries, Eastern Rugs and Carpets”, de 9 de Dezembro de 1971 (lote 17, por Gns 820), através de Wolf Steinhardt, um dos intermediários que atuavam em nome do colecionador nos leilões no estrangeiro.

 

O restauro:

Em Outubro de 2019 o relógio foi restaurado e limpo pelo atelier de reparação Pêndulo Real (Lisboa) com resultados magníficos – visíveis e audíveis! 🙂

 

 

Maria de Lima Mayer

Casa-Museu Medeiros e Almeida

 

Bibliografia:

Loomes, Brian. (2006). Watchmakers and Clockmakers of the World, London: N.A.G. Press;

Barber, Richard C.R. (2006). The Georgian Bracket Clock 1714-1830, London: Antique Collectors Club;

Gwynn, Robyn. (1998). The Huguenots of London; Sussex Academic Press;

Britten, F.J. (1986). Old Clocks and Watches and Their Makers – A History of Styles in Clocks and Watches and their Mechanisms, London: Bloomsbury Books

Webgrafia:

https://discoveringclocks.wordpress.com/2016/06/13/the-cabriers-huguenot-clockmakers-in-london/

http://huguenotmuseum.org/about/the-huguenots/

Artista

Charles Cabrier II (ativo 1726-1772)

Ano

c.1735

País

Inglaterra, Londres

Materiais

Carvalho, laca, latão, aço e vidro

Dimensões

Alt. 99 cm x Comp. 51,5 cm x Larg. 33 cm

Category
Relógios Ingleses