DESTAQUE EM SETEMBRO
POWDER BLUE – “CHUI QING”
Bacia (par) / Jarra / Jarra / Prato / Cabaça (par) – Período Kangxi (1662-1722)
Pote com tampa (2) – Período Qianlong (1736-1795) / Urna com tampa (par) – Séc. XIX
China, província de Jiangxi, Fornos de Jingdezhen
O Museu possui um núcleo de peças de porcelana da China dos séculos XVII e XVIII, realizadas numa técnica que lhes imprime um caráter de exceção; o azul soprado.
Reinado Kangxi – novas técnicas decorativas
Na província de Jiangxi, no sudoeste da China situa-se a cidade de Jingdezhen, local onde foi produzida grande parte da produção de cerâmica chinesa desde a dinastia Yuan. Durante as disputas que levaram ao fim da dinastia Ming em 1644, os fornos foram destruídos tendo a produção de porcelana conhecido um período de impasse.
Após a conquista do país pela nova dinastia vinda da Manchúria, a dinastia Qing em 1644, e já pacificado o país, foi no reinado do imperador Kangxi (1662-1722), que a produção de porcelana foi retomada em 1683.
Grandes entusiastas e patronos das artes, nomeadamente da porcelana, tanto Kangxi como os seus sucessores, o filho Yongzheng (1723-1735) e o neto Qianlong (1736-1795), vão investir no desenvolvimento dos fornos imperiais em Jingdezhen, designando superintendentes que, com o desenvolvimento de novas tecnologias, vão levar produção de porcelana ao seu expoente máximo.
Neste período de aposta no desenvolvimento dos fornos, vai-se dar a introdução de novas técnicas que melhoram os esmaltes coloridos (influenciando a sua cor, viscosidade e textura), introduzem-se novas tonalidades, cores que, indo ao forno a mais altas temperaturas, produzem peças mais brilhantes do que as das dinastias precedentes. Os oleiros dedicam-se também a revisitar tipologias e técnicas antigas, numa mostra de respeito pelos tempos passados – um movimento estratégico por parte dos Manchus para criar aceitação da etnia tradicionalmente chinesa, os Han -, nomeadamente os monocromos, de difícil produção, tão apreciados nas dinastias Song, Yuan e Ming.
Azul soprado
Entre as técnicas revisitadas, ocupa-nos este mês a porcelana “azul soprado” (em chinês: chui qing), inspirada num revivalismo Ming, na qual se utilizava cobalto, um mineral azul (importado da Pérsia e mais tarde minerado na China), para revestir totalmente as peças de porcelana, criando monocromos azuis.
Esta técnica decorativa ressurge em finais do século XVII, nos fornos de Jingdezhen, com grande aceitação, tendo sido produzida até cerca de 1725, altura em que caiu em desfavor. É, pois, um período curto, mas cuja produção é de reconhecida beleza e qualidade destinando-se às elites – mercado imperial e elites estrangeiras -, já que a sua produção envolvia uma técnica elaborada e materiais caros.
A decoração a “azul soprado”, também conhecida como “powder blue”, “soufflé blue”, “bleau poudré” ou “mazarin bleu” difere da simples aplicação de esmaltes azuis, na qual o óxido de cobalto é misturado com a pasta vítrea (sílica) e aplicado na peça.
Na criação de uma peça powder blue, o pigmento é aplicado em pó sobre o corpo de porcelana branca antes de receber o vidrado, ou seja, sobre o biscuit, sendo soprado através de um tubo de bambu cuja extremidade se encontrava coberta por uma fina gaze. Após esta operação, a peça era coberta com uma fina camada de vidrado transparente e ia ao forno, resultando, da fusão do cobalto com o corpo da peça, que criava um fundo com uma caraterística textura manchada (devido às partículas do cobalto) que sugere profundidade e tonalidades que variam do azul mais escuro ao mais claro, conforme a qualidade do cobalto depositada (o cobalto importado – mais apreciado – tem mais ferro criando manchas mais escuras e o cobalto chinês tem mais magnésio resultando num azul mais claro).
Para além de peças inteiramente revestidas a azul soprado – os monocromos – uma variante desta técnica decorativa consistia em criar reservas brancas no corpo da peça que eram posteriormente decoradas com diferentes técnicas. Para criar as referidas reservas, antes do azul ser soprado, as áreas eram cobertas com recortes de papel ou de cera protegendo-as do pigmento, o que resultava em reservas com fundo branco (biscuit), que recebiam posteriormente policromia em tons de azul, azul e castanho, vermelho ferro ou esmaltes da paleta da família verde.
O azul cobalto
Utilizado na China desde a dinastia Tang, é com os Mongóis da dinastia Yuan, que governaram a China entre 1279 e 1380, que o azul cobalto é introduzido em força na produção de porcelana criando a famosa decoração “azul e branco” que permanecerá no léxico decorativo da porcelana da China.
Vindo da Pérsia (atual Irão), era chamado “azul maometano”, tendo sido utilizado até aos reinados de Yongle e Xuande da dinastia Ming, este azul, rico em ferro, produzia um azul vivo e escuro, muito apreciado.
No período Hongwu (1369-1398), devido a diversas restrições comerciais, o abastecimento de cobalto importado foi cortado e os chineses recorreram à mineração de cobalto local, nomeadamente nas províncias de Jiangxi, Xiangjiang e Yunan. Este era um mineral com mais manganês, que produzia um azul mais pálido, desinteressante, sendo utilizado em porcelana produzida nos fornos que se dedicavam ao mercado doméstico popular e ao de exportação.
Recorria-se ainda à mistura de cobalto importado com cobalto local de modo o que resultava num característico azul arroxeado, muito apreciado, com tons do mais claro ao mais escuro dependendo da mistura.
No período Kangxi, o cobalto local era extraído nas províncias de Shaoxing, Jinhua e em Quzhou na província de Zhejiang, o chamado ‘Zhejiang Blue’ (Zheliao), e conferia à porcelana tonalidades de azul intensas e brilhantes, com uma aparência quase tridimensional, caraterísticas que, aliadas à técnica em estudo, garantiam a popularidade desta técnica decorativa.
Pintura a ouro
Foi também neste reinado que foi adicionada pintura a ouro neste tipo de peças, valorizando-as grandemente. Este tipo de pintura provém de uma mistura de ouro puro com mercúrio líquido sendo aplicada após a cozedura das peças, sobre o vidrado com finos pincéis. A pintura a ouro pode consistir em pequenos apontamentos decorativos como contornos, frisos, enrolamentos e florões, mas também surge a protagonizar a decoração em elaboradas pinturas historiadas.
Aplicado o ouro, as peças voltam ao forno para uma queima leve, a meio fogo, após o que eram polidas de modo a avivar o ouro. A delicadeza desta pintura a ouro sobre o vidrado explica o frequente desvanecimento do ouro, prejudicando a leitura decorativa das peças.
Por definição estas peças, quando não marcadas, são atribuídas ao século XVIII, início do XIX e ao mercado de exportação, já que nesta época foram produzidas em grandes quantidades para o mercado ocidental.
Há que levar em conta que os chineses utilizavam marcas apócrifas, homenageando épocas passadas com produção de reconhecida qualidade. Em 1766 o imperador Kangxi proibiu a aplicação do seu nianhao na base das peças de porcelana, alegando que se as porcelanas se partissem, seria uma profanação do seu nome. Tal facto explica a existência do pequeno número de marcas de reinado Kangxi (até 1722), que foram por vezes substituídas simplesmente por um duplo círculo a cobalto sobre o vidrado ou por símbolos tais como uma lebre, uma folha de artemísia, um crescente lunar ou a flor de lótus.
As peças da coleção Medeiros e Almeida:
BACIA (par)
FMA 5187 – Alt. 21,8cm x Diam. 40,2cm
FMA 8008 – Alt. 21,8cm x Diam. 40,2cm
Par de bacias de grandes dimensões, inteiramente revestidas no bojo a esmalte azul-cobalto soprado, decorado com pintura a ouro sobre o vidrado.
A temática decorativa apresenta os oito imortais taoistas, identificáveis pelos seus atributos, integrados numa paisagem com pavilhão, rochedos, árvores, arbustos, mar e nuvens. A decoração da mesma temática, apresentada em espelho, confirma que se trata de um par.
O interior dos aquários foi deixado em branco sendo o fundo decorado com duas figuras – um jovem a servir chá a um ancião reclinado num pote de porcelana, sob uma lua – em esmaltes da família verde, com aplicações de ouro.
A base está marcada com duplo círculo a azul sob o vidrado, uma marca que atesta a qualidade da porcelana e a data do reinado Kangxi. Tendo em vista a qualidade das peças e a temática associada ao Taoismo, a encomenda seria provavelmente destinada ao mercado interno, imperial.
É ainda de notar que o par se mantém junto, algo muito apreciado na China pois, no âmbito da filosofia taoista da dualidade do mundo – yin e yang -, era valorizada a produção de pares.
As proporções destas peças e qualidade da pintura a ouro atestam a qualidade deste conjunto.
Proveniência:
O par foi comprado por Medeiros e Almeida em Lisboa, num leilão da Soares e Mendonça (Rua Luz Soriano, 53 – 1º), realizado em 24 de março de 1956 (lotes 249 – 250), tendo custado 3.700$00 cada peça.
JARRA
Alt. 43,5 cm x Larg. (máx.) 19 cm
FMA 2663
Jarra com corpo cilíndrico, em forma de ânfora, ombros achatados, colo alto cilíndrico e bordo revirado, também conhecida como “rouleau vase” (em chinês: “bangchuiping” que se traduz por taco de madeira), revestida a azul cobalto empoado com reservas brancas decoradas com esmaltes da paleta da família verde e pintura a ouro sobre o azul.
No bojo abrem-se quatro grandes reservas brancas, ovaladas, de disposição vertical, com cenas de exterior, semelhantes duas a duas: um jardim com cancelas, um arranjo de rochas e arbustos e sob nuvens com chuva, um casal namora em primeiro plano, ele sentado num banco e ela ao seu colo. Em segundo plano, por trás das rochas um terceiro elemento, masculino, espreita a cena. Outra cena de paisagem, com montanhas e um curso de água, surgem entre árvores umas cabanas com uma personagem masculina à janela e outra, mais abaixo, na margem sobre uma pedra, de costas parece estar a chorar. Na outra reserva semelhante, a personagem do pagode, observa um lago com várias carpas a saltar. As reservas são delimitadas por filetes dourados e todo o campo de fundo é preenchido com pintura a ouro de motivos florais dentro e fora de medalhões.
A pintura a ouro, sendo feita por cima do vidrado, mostra diversos sinais de desgaste, estando apagada em diversas zonas da peça devido ao manuseamento e exposição à luz.
No ombro, quatro pequenos medalhões de fundo branco são decorados com diferentes arranjos de rochas ornamentais e flores. O pescoço em forma de tronco de bambu – veja-se o anel ao centro – é, à imagem do que acontece no bojo, preenchido por motivos florais a dourado, bem como o bordo revirado.
Há variedades deste tipo de decoração quanto ao número de reservas com decoração família verde e à sua localização no bojo ou no pescoço, os mais raros apresentando mais painéis (3/4) no bojo e também no pescoço, para além da qualidade da pintura, fator chave da análise.
O bordo da base termina num ressalto, o que denuncia a existência de um suporte, provavelmente feito em madeira de huanghuali, recortada e vazada, utilizado para enobrecer a peça (o trabalho artístico destas bases varia com a sofisticação da peça) e para lhe conferir estabilidade sem esconder a sua base, mostrando assim toda a decoração e escondendo a parte não vidrada do pé.
Apesar dos chineses fazerem bases em diversos materiais e para todo o tipo de peças desde sempre, estas foram muito populares no século XVIII, tendo aparecido o ressalto na época Kangxi, principalmente em jarrões e vasos de porcelana de grande porte, para maior estabilidade. Note-se que o ressalto aparece ainda no reinado Guangxu (1875-1908) em peças revivalistas Kangxi.
Esta forma – “rouleau” – muito querida no reinado Kangxi, foi uma das mais apreciadas pelo mercado externo tendo sido também muito copiada posteriormente, com grande qualidade como por exemplo no período Guangxu (1875-1908).
A peça está marcada na base com duplo círculo a azul-cobalto sob o vidrado, atestando a sua qualidade.
Proveniência:
De acordo com a documentação, a jarra pertenceu à colecção de W. J. Holt, Inglaterra, tendo sido adquirida pelo colecionador M. e Almeida, ao antiquário John Sparks (128, Mount Street), através de Peter Sparks, em Londres, a 8 de julho de 1946, por £ 280.
JARRA
Alt. 45 cm x Diâm. (máx.) 12 cm
FMA 4501
Jarra de base estreita com bojo fuselado (em forma de ânfora) e pescoço alto com bordo revirado, forma conhecida como “rouleau vase”, “bangchuiping” (em chinês).
O corpo da peça é totalmente revestido em esmalte azul empoado “powder blue”, sendo decorado no bojo com quatro grandes carpas “koi“, pormenorizadamente desenhadas e pintadas a vermelho ferro “rouge-de-fer” sobre o azul, representadas a nadar entre carpas mais pequenas e outras espécies de peixes pintados a ouro, sobre o fundo azul, nadando entre diferentes tipos de plantas aquáticas também representadas a fino traço de ouro sobre o cobalto.
O ombro é delimitado por barra de axadrezado interrompida por quatro reservas decoradas com flores (muito apagadas), terminando no topo por filete que marca o arranque do pescoço. Este é em forma de tronco de bambu, sendo decorado a ouro com quatro peixes; duas carpas e dois outros peixes preenchidos a dourado, a nadar entre plantas aquáticas.
A pintura a ouro encontra-se desvanecida, prejudicando a compreensão da rica decoração, que neste caso complementaria a representação das carpas.
A base é delimitada por barra de painéis simples verticais. Apresenta ligeiro ressalto destinado à base de madeira.
A carpa é um animal que na mitologia chinesa está associado à longevidade pois atinge idades avançadas e também à perseverança pois luta contra as correntes, subindo os rios. Reza a lenda que no rio Amarelo as carpas conquistam os rápidos de Long Men (Porta do Dragão), transformando-se em dragões. Esta metáfora relaciona-se com a determinação que é necessária aos estudantes para passarem nos exames, pelo que as carpas também simbolizam o sucesso literário, algo muito apreciado na China.
Esta combinação de powder blue com pintura rouge de fer foi uma das mais populares de Jingdezhen no 1º quartel do século XVIII para o mercado externo, nomeadamente o do Médio Oriente onde as peças eram utilizadas tanto na mesa como para fins decorativos entre as elites. O esmalte vermelho é feito com base no chumbo, sendo o tom alaranjado devido ao óxido de ferro.
Não estando a base marcada com o duplo círculo, julga-se ser esta uma peça destinada ao mercado de exportação apresentando, porém, grande qualidade. Verifica-se o furo feito para eletrificação da peça, o que acontecia frequentemente em jarras e jarrões de porcelana.
Proveniência:
O jarrão foi adquirido na casa leiloeira Sotheby´s de Londres, a 9 de maio de 1972 (lote 146), através de Peter Sparks, agente com quem o colecionador fez muitos negócios, responsável pelo famoso antiquário dedicado à arte chinesa John Sparks (128, Mount Street, Londres). A peça custou a elevada quantia de £650.
PRATO
Diam. 24cm
FMA 2659
Prato redondo (em chinês: “pan”), de pequeno diâmetro, em porcelana muito fina, com interior e tardoz revestidos a vidrado azul cobalto soprado.
No interior destacam-se quatro reservas brancas polilobadas na aba e uma reserva central, onde se representam, em esmaltes da paleta da família verde, arranjos com rochas ornamentais perfuradas e flores nos lados e ao centro uma composição com rochas, flores e um pássaro em voo.
As reservas seriam delimitadas por filete a ouro que está desvanecido e encontram-se vestígios no fundo azul da presença de quatro pés de flores intercalados entre os painéis laterais, que por terem sido pintados a ouro, estão também desvanecidos, só se conhecendo o contorno manuseando o prato à luz.
Deveria pertencer a um par (inexistente).
A base está marcada com duplo círculo a azul sob o vidrado e com um dos oito símbolos preciosos chineses (babao), o losango ou espelho com fitas, ao centro, atestando a qualidade da porcelana e da encomenda que se destinaria ao mercado interno.
Proveniência:
De acordo com os registos mantidos no arquivo do museu, este pequeno prato foi adquirido ao antiquário inglês especialista em arte chinesa, John Sparks Ltd. (128, Mount Street), de Londres, a 8 de julho de 1946, por £45.
CABAÇA (par)
Alt. 22,5cm
FMA 4219 – FMA 5524
Par de recipientes em forma de cabaça (em chinês: “ping”), de fundo azul empoado e reservas com esmaltes da família verde e decoração a dourado.
O bojo inferior apresenta duas grandes reservas quadrifólias, decoradas em policromia com esmaltes da paleta da “família verde”, uma com composição de plantas aquáticas, um pato, flores e insetos e outra com flores, folhas e um ramo com um pássaro pousado e outro a voar.
O colo alto compõe-se de anéis de tamanho decrescente e gargalo terminado por bordo projetado para fora. O anel inferior é decorado com duas reservas em forma de leque, com fundo branco e decoração polícroma de flores e folhas.
Toda a composição é realçada por flores de ouro, por filetes que delineiam as reservas e delicados frisos de enrolamentos que marcam as formas.
A forma destes recipientes é muito comum na arte chinesa sendo um dos poderosos símbolos taoistas com diversos significados representando, entre outros, a terra e o céu (o universo) ou a alquimia. É também atributo de um dos oito imortais taoistas, Li Tie Guai, que transporta o elixir da vida na sua cabaça.
Proveniência:
O par de cabaças pertenceu às coleções de Sir William Henry Bennett, KCVO (1852-1931) e posteriormente de Sir Alfred Hammond Aykroyd (1894–1965), ambos reconhecidos colecionadores de arte chinesa ingleses.
Em maio de 1966 o par foi adquirido em leilão da Sotheby’s de Londres (lote 208), através de Peter Sparks do antiquário de Londres John Sparks Ld. (128, Mount Street), por £ 920 (par).
POTE COM TAMPA (2)
FMA 432 – Alt. 50 cm x Larg. (máx) 29,5cm
FMA 433 – Alt. 44,5 cm x Larg. (máx) 29cm
Dois potes de bojo arredondado e ombros largos (guan), com tampas de abas largas e encimadas por figuras de leões budistas sentados, numa forma conhecida como “capacete” pelo que esta tipologia é conhecida por jiangjun guan – pote de general ou marechal.
Este modelo, que servia para guardar ervas, era produzido nos fornos civis, e foi popular entre os períodos Jiajing a Wanli da dinastia Ming, sendo repetido na época Kangxi (dinastia Qing) com grande sucesso.
A maioria deste potes é decorada em azul e branco ou com esmaltes da família verde, sendo que a decoração azul empoado é mais rara.
As duas peças são inteiramente revestidas a azul soprado sendo decoradas com pintura a ouro sobre o vidrado em traço fino. Nos bojos apresenta-se uma elaborada paisagem sem personagens, com pavilhões, rochedos, árvores e altas montanhas. A decoração dos bojos é semelhante, mas sendo a decoração orientada na mesma direção e tendo um dos potes a cercadura inferior diferente, confirma-se que não se trata de um par apesar de ter sido vendido como tal.
O pote que apresenta a pintura a ouro em melhores condições (FMA 433), tem a cercadura inferior com simples linhas verticais e a dos ombros e pescoço com enrolamentos vegetalistas e flores que se repetem na tampa. O segundo exemplar, cuja pintura sobre o vidrado se encontra em pior estado de conservação, tem uma cercadura inferior mais complexa, com painéis verticais decorados com enrolamentos vegetalistas sendo o bojo, ombros e tampa decorados no mesmo padrão.
Proveniência:
Os potes foram adquiridos (como par), por Medeiros e Almeida em leilão da Leiria e Nascimento (Rua do Ouro, 292, 1º esq.), em Lisboa, realizado a 11 de Abril de 1945, lotes 79 e 80 (retirados) por 2.500$00 (cada).
URNA COM TAMPA (par)
FMA 430 – Alt. 46,5cm x Larg. (máx.) 20cm
FMA 431 – Alt. 47 cm x Larg. (máx.) 20cm
Este conjunto é manifestamente de uma época mais tardia, trata-se de um par de urnas em forma de balaústre esquinado com bojo acentuado e colo alongado em porcelana branca, pesada e espessa, revestida a azul “soprado” sob o vidrado e decorada a ouro sobre o vidrado. As urnas apresentam duas asas vazadas e recortadas, em forma de dragão “kui” estilizado e tampa retangular com botão de preensão em forma de cão de fó.
Uma das faces do bojo é decorada com uma típica paisagem à beira da água (sugerida por traços ondulantes), com montanhas, uma ponte, um pagode e uma escadaria a serpentear entre arvoredo. O colo apresenta um tronco de ameixieira em flor com dois pássaros pousados. Na simbologia chinesa, a ameixeira é o emblema do inverno sendo ainda a flor nacional da China pois as cinco pétalas indicam os clãs que compõem a civilização chinesa: Chinês, Manchu, Mogol, Maometano e Tibetano.
A outra face da urna apresenta no bojo uma típica paisagem de rio com duas margens, rochedos, plantas aquáticas, árvores e dois patos, um pousado na margem e o segundo em voo numa simbologia associada à felicidade conjugal. No colo, um ramo com duas delicadas peónias entre folhagem, flor que alude à primavera, ao amor e afeto, constituindo anúncio de boa sorte.
As faces laterais do bojo são decoradas por troncos de bambu que representam a força e a longevidade. O ombro, formando ligeiro ressalto, apresenta friso de quadrifólios interrompido por cartela com um losango e fitas (o espelho “jing”) que, sendo um dos “oito objetos preciosos”, é um elemento auspicioso que alude a uma inquebrantável felicidade conjugal. A tampa, rematada por grega, tem a decoração de paisagem muito apagada levando a considerar – apesar dos motivos decorativos parecerem concordantes – pela diferença com o estado da pintura do corpo, que possa não ser a original.
Proveniência:
Este conjunto pertenceu à coleção do Palácio de Monserrate, Sintra enquanto propriedade de Sir Francis Cook, conforme atesta fotografia coeva da Sala de Bilhar do referido palácio. O par foi adquirido no leilão do recheio do Palácio Monserrate, realizado na Casa Liquidadora Leiria e Nascimento, Ld.ª (Rua do Ouro, 292 – 1º esq.), Lisboa, em 7 de Novembro de 1946, lote 308, por 16.000$00, ocasião na qual se dispersou o espólio do palácio.
Maria de Lima Mayer
Casa-Museu Medeiros e Almeida
NOTA: A investigação é um trabalho permanentemente em curso. Caso tenha alguma informação ou queira colocar alguma questão a propósito deste texto, por favor contacte-nos através do correio eletrónico: info@casa-museumedeirosealmeida.pt
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