Concerto Musique de Table
Ludovice Ensemble
Joana Amorim e Marta Gonçalves, traversos
Sofia Diniz, viola da gamba
Fernando Miguel Jalôto, cravo
10 de dezembro, 18h30
Inauguração do Núcleo Expositivo
“Coleção da Titita. Vidros & Porcelanas Vista Alegre”
Museu Medeiros e Almeida
Rua Mouzinho da Silveira, 4
Entrada Livre
Obras de Georg Philipp Telemann (1681-1767), François Couperin (1668-1733), Marin Marais (1656-1728), Antoine Forqueray (1672-1745) / Jean-Baptiste Forqueray (1699-1782) e Johann Sebastian Bach (1685-1750).
Ao longo dos séculos XVII e XVIII era costume a grande nobreza europeia tomar as suas refeições ao som de música, interpretada pelos músicos «da câmara». Para este efeito privilegiavam-se as obras instrumentais para um solista ou um pequeno grupo, o que permitia criar um fundo suave que não atrapalhava a conversação. No entanto as refeições mais solenes e formais eram frequentemente tomadas com muito poucos convivas à mesa, enquanto a corte assistia em silêncio. A música servia nestes casos para solenizar o complexo cerimonial, que incluía o apresentar não só dos diferentes pratos — servidos em conjuntos, ou «entremezes», em entradas sumptuosas e cénicas — mas também de objetos, como o guardanapo ou o talher, e ações, como o trinchar da carne ou o servir do vinho. Dependendo do contexto, era possível escutarem-se canções ligeiras — como as chansons à boire — e, nos dias de maior fausto, podia mesmo ser requerida a presença de uma orquestra completa, com trombetas e atabales.
Se algumas obras foram publicadas ou recolhidas com este fim específico de acompanhar e ornamentar refeições — os exemplos mais famosos são o Banchetto Musicale de Schein, as três coleções de Musique de Table de Telemann, as Symphonies pour les soupers du roi, de De Lalande, ou as suites da Tafelmuziek de Johann Fischer — na verdade qualquer obra musical poderia ser utilizada nesta função, e são muitos os testemunhos de que assim foram empregues milhares de suites e sonatas compostas neste período. Não esqueçamos que Bach escreveu música para ser tocada nas soirées descontraídas do Café Zimmerman, e compositores e virtuosos de grande fama eram frequentemente convidados para tocar durante as refeições, fosse do rei Luís XIV, como Couperin e Marais, em Versalhes, ou do papa e dos cardeais romanos, como Corelli e Alessandro Scarlatti. Foi sobretudo nas várias pequenas cortes da Alemanha seis e setecentista que esta moda mais se divulgou, mas irá perdurar noutros locais, mesmo ao longo do século XIX, e agora em ambientes burgueses, como testemunham algumas pequenas obras de Rossini.
A elegância, a delicadeza, a grandiosidade — mas, ocasionalmente, também o humor — da música refletiam, musicalmente, o requinte e exotismo dos repastos, contribuindo, juntamente com as luxuosas baixelas de prata, cristal e porcelana, que espelhavam a luz dos lustres e candelabros, e em sintonia com os magníficos estofos de veludo, e os atoalhados de seda e damasco, para momentos de esplendor e ostentação, indispensáveis e indissociáveis da sociabilidade barroca. Eram momentos teatrais e encenados, em que cada elemento ocupava um lugar e função preciso, e dotado de um simbolismo próprio. Os atuais banquetes formais apenas nos dão uma pálida imagem, não só pela forma radicalmente diferente de entender as refeições, mas sobretudo por normalmente faltar essa específica dimensão sonora, em que a música mais refinada e eloquente se misturava ao tilintar dos copos e talheres, e ao murmúrio das intrigas e gracejos.
Fernando Miguel Jalôto
Ludovice Ensemble
O Ludovice Ensemble é um grupo especializado na interpretação de Música Antiga, sediado em Lisboa, e criado em 2004 por Fernando Miguel Jalôto e Joana Amorim, com o objetivo de divulgar o repertório de câmara vocal e instrumental dos séculos XVII e XVIII através de interpretações historicamente informadas e usando instrumentos antigos. O nome do grupo homenageia o arquiteto e ourives alemão Johann Friedrich Ludwig (1673-1752) conhecido em Portugal como Ludovice.
O Ludovice Ensemble está presente regularmente em Portugal nos principais festivais nacionais, bem como nas duas principais salas de Lisboa: o CCB e a Fundação Calouste Gulbenkian. Com vinte anos de intensa e ininterrupta atividade, é incontestavelmente um dos mais relevantes agrupamentos nacionais da especialidade, sendo membro do REMA — Réseau Européen de la Musique Ancienne — com sede em Versalhes, desde 2021, o que certifica internacionalmente o mérito do seu trabalho.
Apresentou-se no estrangeiro nos mais prestigiantes festivais de música antiga em Espanha, França, Bélgica, Países Baixos, Irlanda, República Checa, Estónia e Israel. Gravou ao vivo para a RDP-Antena 2, a Rádio Nacional Checa (ČRo) e a Rádio Nacional da Estónia, bem como para o canal de televisão francês MEZZO. O seu primeiro CD, para a editora Franco-Belga Ramée/Outhere foi nomeado em 2013 para os prestigiados prémios ICMA na categoria de Barroco Vocal. Em 2020 lançou um álbum duplo com obras dos irmãos Graun para flauta e cravo obrigado, pela editora inglesa Veterum Musica, e em 2023 outro duplo CD, dedicado à música de câmara da família Avondano, para o MPMP. Do seu trabalho destacam-se grandes obras de música sacra de Monteverdi, Bach, Charpentier, Rameau e A. Scarlatti, bem como óperas de F. Caccini, Lully, Charpentier, Bourgeois e Purcell.
Espetáculos recentes incluem uma antologia de música portuguesa desde as Cantigas de Amigo até Lopes-Graça em Telavive (Israel); a «Oferenda Musical» de Bach no Festival de Marvão; as «Leçons de Ténèbres» de De Lalande no Festival Arte Sacro de Bilbau; e uma tournée de concertos em Espanha com música francesa de inspiração espanhola, incluindo a Quincena Musical de San Sebastián, o Festival de Santander, e os festivais de música antiga de Aranjuez, Sevilha, Madrid, Sória e Jaca. Recentemente levou a sua versão das «Quatro Estações» de Vivaldi ao Coliseu do Porto e ao CCB.
Em 2024 celebrou o seu vigésimo aniversário com um concerto inteiramente dedicado a J. S. Bach, no Pequeno Auditório do CCB, incluindo uma versão encenada da célebre «Cantata do Café», o «Concerto de Brandeburgo n.º V» e a «Ouverture em Si menor». Regressou a Espanha para mais concertos em Madrid — música francesa «À l’espagnole» — e o Festival dos Pirenéus Catalães —celebrando Camões, com obras do Renascimento português —, estreou-se no Festival de Sintra com a recuperação moderna da oratória «Maria Vergine al Calvario» de G. M. Schiassi, tornou aos festivais de Música Sacra de Guimarães e de Órgão de Mafra, e apresentou vários outros concertos em Faro, em Vila do Conde, e no Festival de Órgão de Santarém. Destacou-se um especial concerto com música mariana do século XVII, com obras de Monteverdi e Carissimi, na Basílica do Santuário de Fátima.
Desde 2021 realiza, periodicamente, em Aveiro, a Academia Ludovice, um inovador festival e curso de Verão dedicado às práticas históricas interpretativas da música, dança e teatro barrocos, aberto a alunos, profissionais e amadores de todas as idades. O Ludovice Ensemble é grupo residente do Museu Medeiros e Almeida, onde ensaia regularmente e apresenta ao longo do ano vários recitais e ensaios abertos, colaborando ainda nas atividades do museu, como exposições e visitas.
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