Cómoda Pierre Roussel
Cómoda de estrutura de madeira de carvalho, revestida a vernis Martin, decorada por bronzes dourados e tampo em mármore, não estampilhada, atribuída ao ebanista francês Pierre Roussel.
Nascido em 1723 Roussel fazia parte de uma família de ebanistas e marceneiros que se notabilizou em Paris durante o século XVIII. Ainda muito jovem com apenas 22 anos, tornou-se mestre, estabelecendo-se na Rue de Charenton. As encomendas de móveis feitas por Louis-Joseph de Bourbon, príncipe de Condé para o seu palácio, assim como para o castelo de Chantilly, granjearam-lhe o reconhecimento necessário a um ebanista de prestígio.
Mestre em 1745 Roussel produziu dezenas de móveis, a maioria dos quais, folheados e marchetados com madeiras exóticas tendo produzido também numa fase inicial da sua carreira, peças en vernis Martin, um tipo de acabamento que pretendia imitar a laca oriental. Feito de diversas resinas misturadas com pigmentos coloridos, teve o seu período áureo na primeira metade do século XVIII, quando foi aperfeiçoado pelos irmãos Martin pintores – envernizadores, atingindo um elevado grau de qualidade, tornando-se por isso muito popular, o que lhe permitiu “substituir” com sucesso os painéis importados e caros de laca oriental.
A decoração da cómoda em “chinoiseries” e vernis martin, remete para o universo chinês muito popular à época, de tal modo que, pintores europeus se encarregavam de criar desenhos de feição oriental, como é o caso da decoração desta cómoda. Pierre Roussel recorreu a desenhos executados por François Boucher, representando o Fogo e a Terra, editados em 1740 por Pierre Aveline, que constituem as cenas representadas na frente da cómoda e que aqui foram reproduzidos em posição invertida.
A decoração é ainda realçada pela aplicação de bronzes rocaille, com concheados e volutas, dourados e cinzelados, que dividem o espaço em três cartelas, como era característico de Pierre Roussel, sendo debruada por um filete de bronze que assim disfarça as juntas do móvel, revelando a qualidade técnica do acabamento. Embora não estampilhado, aproxima-se formalmente este exemplar de outros por si produzidos em particular no que respeita à execução dos bronzes.
A sua morte ocorrida aos 59 anos, não impediu que a sua oficina perdurasse uma vez que, os seus filhos Pierre-Michel e Pierre (o Jovem) assim como a viúva prosseguiram com o negócio (usando a mesma estampilha) continuando a fornecer móveis para o príncipe de Condé e através deste para a corte.
Proveniência:
O antiquário Fausto de Albuquerque adquiriu a cómoda à Galerie Maurice Chalom (38, Faubourg St. Honoré), Paris, a 29 de Novembro de 1946, por FFR 1.200.000.
A cómoda esteve exposta no antiquário de Fausto de Albuquerque (R. Nova da Trindade, nº 1 C) em Lisboa como Pierre Roussel e como: “Pertencia ao catálogo Rotschild” in: notícia Diário Popular, 20/8/1947), onde foi adquirida por Medeiros e Almeida por 219.600$00.
Este jornal dava conta da entrada e venda deste móvel em Portugal, escrevendo: “Encontra-se em Lisboa uma cómoda assinada pelo “Stradivarius” do móvel; Pierre Roussel (…) um móvel que não tem prata nem ouro e vale o preço de uma herdade completa, com vacas e tudo (…) a cómoda Luís XV, “puro sangue”, que vimos ontem e nos pareceu roubada ao ” boudoir” da marquesa de Pompadour (…) Contentamo-nos em saber que o património artístico português subiu um ponto”.
Pierre Roussel (1723-1782)
1745-1755
Paris, França