Nesta peça, em que se representa o tema da Coroação de Nossa Senhora, o trabalho de relevo é ligeiro (médio relevo) sendo a figuração estática e o tratamento algo rude.
Existem vestígios da policromia original, nomeadamente de dourados e vermelhos, e o característico padrão de margaridas de seis pétalas em tons esverdeados na parte inferior, que data a placa do início da centúria de quatrocentos.
Ao centro, a Virgem Maria apresenta-se sentada, sendo ladeada por duas figuras masculinas elevadas por plintos; Deus Pai à esquerda (segurando o globo terrestre) e Cristo à direita – sustentando uma cruz processional e estendendo a mão direita em atitude de bênção – ambos seguram ao centro a tiara com que coroam a Virgem. Encimando a composição, o Espírito Santo em forma de pomba participa também na coroação ao segurar com o bico o topo da coroa.
Este episódio não é mencionado na Bíblia, a sua fonte será proveniente da obra do Bispo Melitão de Sardes (s. II), mais tarde popularizada por Gregório de Tours (s.VI) e por Jacques de Voraigne na obra ‘Legenda Dourada’ (s.XIII).
Os “Sete Prazeres da Virgem Maria”: A Coroação é um episódio inserido no ciclo da Vida da Virgem, podendo fazer parte igualmente da representação das sete Alegrias de Nossa Senhora.
Esta placa formava provavelmente parte de um conjunto maior, um retábulo, que seria composto por outras placas de características similares enquadradas por uma moldura de madeira trabalhada, sendo que todo o conjunto seria pintado e dourado.
Poderia tratar-se também de um retábulo destinado à devoção particular; numa época onde a difusão pelo Ocidente de Europa da moda dos oratórios particulares – potenciada pelo movimento da Devotio Moderna – estava em crescimento e estas placas, de pequeno tamanho, seriam fáceis de transportar sem grande perigo de fratura.
Samantha Coleman Aller
Casa-Museu Medeiros e Almeida
Bibliografia:
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BODKIN, Thomas, Mediaeval English Alabaster work in Portugal, Separata do Boletim do MNAA, Fascículo II, vol. I, 1947, Lisboa
CHEETHAM, Francis W., Medieval English Alabaster Carvings in the Castle Museum Nottingham, The City of Nottingham, Art Gallery and Museums Committee, 1962
CHEETHAM, Francis W., Portugal e os alabastros medievais ingleses, Conferência proferida no MNAA, Lisboa 1981
COUTO, João, Alabastros de Nottingham, Separata de Arqueologia e História, 8º série, Vol. XII, Ass. Arqueólogos Portugueses, 1966
DIAS, Pedro, Alabastros medievais Ingleses em Portugal – subsídios para a sua inventariação e estudo-região das Beiras, Separata de Biblos, LV, Coimbra
MARKL, Dagoberto, Três Painéis de Alabastro de Nottingham do MNAA – A iconografia das ‘ST. John’s Heads’, Panorama, Revista Portuguesa de Arte e Turismo, nº46/47, IV série, Lisboa, 1973
RAMSEY, Nigel, Os alabastros ingleses na Europa, História Artística da Europa – A Idade Média, Tomo II, Lisboa, Quetzal Editores, 1998
Dissertação de Mestrado:
MESQUITA, Sílvia Monteiro de Sousa; Alabastros Medievais Ingleses nos Museus de Portugal. Universidade Lusíada, Departamento de História da Arte, Lisboa, maio 2000
Catálogos de exposições:
Documentação da exposição “Alabastros Medievais Ingleses – Museu do Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha)”, Junho de 1981
Catálogo da exposição “Alabastros Medievais Ingleses – colecção do MNAA”, março 1977
HOPE, W.H.Sr. John, On the early working of alabaster in England, English Medieval Alabaster Work, Londres, Society of Antiques, 1910
Autor Desconhecido
Séc. XV (início)
Inglaterra, Nothingham
Alabastro e policromia
Alt. 50cm. x Larg. 37cm.