DESTAQUE NOVEMBRO 2021
“LADY JANE HOPE” – GEORGE ROMNEY
A coleção de pintura do Museu integra dois retratos de retratista ingleses do século XVIII que ilutram a moda em voga à época dos membros da elite se fazerem retratar pelos grandes nomes da pintura coeva.
Exposta na Sala do Piano, Lady Jane Hope é acompanhada por outra jovem da autoria de John Hoppner, Lady Fitzroy.
George Romney pintor retratista inglês, nascido em 1734 em Dalton-in-Furness no Lancashire, frequentou a escola até aos 11 anos, idade em que foi trabalhar com o pai na sua oficina de marceneiro e onde permaneceu ao longo de oito anos. Autodidacta durante grande parte da sua formação, contactou contudo, com Christopher Steele, pintor retratista itinerante de Lancaster com quem aprendeu e trabalhou durante dois anos.
A partir de 1756, estabelece-se em Kendal como retratista pintando inicialmente pequenos formatos de representações de corpo inteiro. Em 1762, na busca de novos horizontes, parte para Londres onde se instala e vive a maior parte de vida, passando a pintar retratos para a aristocracia e alta burguesia, com grande sucesso.
Expõe em várias das galerias da cidade como na Society of Arts, na Free Society e na Society of Artists mas, não na Royal Academy of Arts, devido a uma incompatibilidade com o primeiro presidente da mesma e também pintor de retrato, Sir Joshua Reynolds. Tal facto, não o impediu, no entanto, de se ter tornado um dos principais retratistas ingleses da segunda metade do século XVIII. Obcecado pelo trabalho, deixou centenas trabalhos referenciados em documentação por si elaborada.
Considerado, juntamente com Joshua Reynolds e Thomas Gainsborough, um dos três maiores retratistas ingleses, sua pintura não se restringiu, no entanto, a esta temática, tendo-se dedicado também à pintura de história, alegórica e de literatura.
Foi o pintor da graça feminina inglesa, personificada naquela que apelidava de “Divine Lady” e que se transformou no seu modelo preferido: Lady Emma Hamilton da qual teria executado vinte e quatro retratos, segundo declara o filho do pintor – Rev. Jonh Romney – nas suas memórias.
Evitou o formalismo e o pretensiosismo de Reynolds a favor de uma elegância mais suavemente natural.
Jane Hope retratada na pintura adquirida em Londres, por Medeiros e Almeida em 1958, era filha de John 2º conde de Hopetoun. Pousou para Romney ainda solteira, com 23 anos.
Romney retratou Lady Jane sobre fundo escuro, trajando camisa branca sobre a qual é visível um corpete em tonalidade escura e um fichu (xaile) com laço. O cabelo ondulado cai solto de dentro de um toucado branco que completa a indumentária segundo figurino do último quartel do séc. XVIII. Ao pescoço usa fio dourado que dá três voltas, com pedra.
Em 1793 Jane casou-se com Henry Dundas, 1º visconde de Melville e em 1814 voltou a casar-se com o 1º barão Wallace. Morreu em 1829 aos 62 anos.
Para a execução deste retrato, Lady Jane terá apenas posado duas vezes: a primeira em Setembro de 1789 e a segunda em Fevereiro do ano seguinte, o que de alguma maneira acabou por se reflectir no aspecto inacabado que a obra apresenta.
A pintura tem uma modura coeva em talha dourada e vazada.
Proveniência
De acordo com a documentação, a pintura pertenceu à colecção de Charles Hope, Lord Granton (1763-1851), que vivia em Granton, Midlothian, Escócia. Entre muitos outros cargos, foi Lord Presidente da Sessão das Cortes entre 1811 e 1836. A sua mulher Lady Charlotte Hope (casamento em 8 Agosto 1793) era irmã da retratada – Lady Jane Hope -, filhas de John Hope, 2º Conde Hopetoun (1704-1781) e da 2ª e da 1ª mulher respetivamente.
A pintura foi vendida em leilão da Christie’s a 9 Maio de 1896, lote 141, por £1,260, para uma colecção privada em Boston, Massachussets (Mrs H. C. Knapp?) e posteriormente, Arthur Tooth, negociante de arte em Londres e Nova Iorque (5&6, Haymarket, S.W., London e 295, Fifth Avenue, New York) adquire-a em 1901 por £ 1,760, para uma família de New England nos Estados Unidos da América.
Desconhece-se como o retrato chegou à posse do antiquário John Mitchell (25, Old Burlington Street), de Londres, onde foi adquirido por Medeiros e Almeida a 31 Outubro de 1958, por £2,500.
A Casa-Museu Medeiros e Almeida agradece a confirmação de atribuição gentilmente disponibilizada pelo investigador e autor do catálogo raisonné do artista, Alex Kidson da Romney Society (Maio 2017).
Cristina Carvalho
Casa-Museu Medeiros e Almeida
NOTA: A investigação é um trabalho permanentemente em curso. Caso tenha alguma informação ou queira colocar alguma questão a propósito deste texto, por favor contacte-nos através do correio eletrónico: info@casa-museumedeirosealmeida.pt
Bibliografia
KIDSON, Alex – George Romney 1834-1802. London: National Portrait Gallery, 2002
KIDSON, Alex – George Romney A Complete Catalogue of his Paintings (3 vols). New Haven and London: Yale University Press, 2015