O Relógio – de bolso, de mesa, de carruagem:
Relógio de bolso, de dupla face, com repetição de quartos a toque, triplo quantième, fases e idade da lua, ponteiro de horas saltantes, indicação de reserva de corda e equação do tempo.
“Equação do tempo” é uma complicação astronómica que traduz a diferença entre a duração do dia solar médio – a marcada pelos relógios (tempo civil) – e a do dia solar verdadeiro, que varia ao longo do ano, atingindo máximos de 16 minutos de avanço e 14 minutos de atraso da primeira em relação à segunda. As diferenças são regularizadas com a instituição do ano bissexto.
Os dois mostradores são guilhochados; um em ouro e outro em platina. O de ouro tem numeração romana, dois ponteiros centrais típicos ‘Breguet’ (em aço azulado, com argola vazada), assinatura secreta (não visível a olho nu) sobre o número XII e assinatura do relojoeiro “BREGUET ET FILS” sobre o número VI. Possui ainda dois mostradores subsidiários; à esquerda sobre o número VII para os segundos e à direita, em meio círculo, sobre o número V, para o estado da corda que tem 36 horas. Sobre o número II encontra-se o orifício para dar corda e a indicação “QUANTIEMES” que marca os dias do mês.
O mostrador de platina, com numeração romana tem dois ponteiros centrais; um normal que indica a equação de tempo e o outro flamejante que indica os meses (escritos no lugar das horas). Existem ainda três mostradores subsidiários para as fases e idades da lua (às 12), para os dias do mês nas 5 horas e para os dias da semana nas 7 horas.
Esta peça pode-se transformar em relógio de mesa, pela introdução numa caixa retangular, de metal dourado e guilhochado e pega no topo.
Por sua vez, a caixa de metal pode ser guardada dentro de outra – em mogno envernizado forrada com acolchoado de veludo verde, com abertura por um sistema de tampas deslizantes – que possui uma ranhura na parte inferior que servia para encaixar em local próprio nas carruagens, de modo a melhor suportar as atribuladas deslocações, tornando-se assim em relógio de viagem.
Horas, minutos e segundos
Lepine Fundo: Mostrador calendário
F. energia: directo
Complicações astronómicas: data, dia, mês, calendário perpétuo, lua, equação do tempo, calendário zodíaco
Complicações Sonoras: repetição a quartos
Fonte de energia: corda e fuso
Tipo de escape: double whell robin escape (dupla roda de escape Robin, Art of Breguet, pg. 192
Tipo de oscilador: balanço
Espiral: plano
Estado geral: bom, funciona
O Relojoeiro:
Abraham-Louis Breguet começou a trabalhar em Paris em 1776, sendo todos os seus relógios de uma perfeição técnica tal, que é considerado um dos mais famosos artesãos relojoeiros de todos os tempos.
A.-L. Breguet revolucionou a mecânica relojoeira quando em 1801 inventou o regulador de turbilhão, porém os seus inventos não ficam por aí; são da sua autoria a invenção e patente de centenas de complicações, entre elas a corda automática, a mola espiral, o sistema anti-choque – por ele chamado de parachute – e o modelo sympathique de leitura táctil.
Historial:
Este relógio foi encomendado à Casa Breguet, a 24 de Agosto de 1808, pelo general francês Jean-Andoche Junot (1771-1813). A compra, realizada por 5.160 FFR, consta do certificado da Breguet nº 3055.
Em 1813, após a morte do general, por suicídio, a viúva, Laura Junot, duquesa de Abrantes, vende-o de novo à Casa Breguet. Em 1816 o relógio é adquirido pelo inglês Lord Berwick e oferecido por este ao seu amigo o general Rowland Hill.
O General Arthur Wellesley (1769-1852), 1º Duque de Wellington, companheiro de armas de Rowland Hill, recebe-o deste como presente em 1818.
O historial deste relógio pode ser considerado como uma ironia da História dado que ambos os generais, Junot e Wellington, se tinham combatido em Portugal, durante as Invasões Francesas, tendo o segundo – à frente das forças anglo-lusas – vencido o primeiro na Batalha do Vimeiro em Agosto de 1808. O relógio permaneceu na posse da família Wellington até 1964, altura em que é adquirido por medeiros e Almeida em leilão da Sotheby’s, Londres, de 1 de Junho de 1964, lote 64, através do antiquário inglês Robert A. Lee, por £ 27,500.
A divulgação na imprensa inglesa e portuguesa da renhida licitação e do surpreendente valor alcançado pelo relógio, levou a que o então Presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, pedisse ao coleccionador para ver tal preciosidade.
Proveniência:
Encomenda do General Jean-Andoche Junot (1771-1813) à casa Breguet, Quai de l’Horloge, (hoje nº 39), Paris, em 24 de Agosto de 1807, por FFR 5.160;
Readquirido pela Casa Breguet, Paris, à Madame Laura Junot, Duquesa de Abrantes, (1784-1838), em 1813, após a morte do marido;
Pertenceu à colecção de Sir William Noel-Hill, 3º Barão de Berwick of Attingham (1773-1842) que o adquiriu à Casa Breguet, Paris, em 18 de Dezembro de 1816, por FFR 5.000;
Pertenceu à colecção do general Rowland Hill, 1º Visconde Hill de Almaraz, (1772-1842), primo em 2º grau do 3º Barão de Berwick;
Pertenceu à colecção de Sir Arthur Wellesly, Duque de Wellington (1769-1852), provavelmente oferecido por Sir Rowland Hill em 1818. Este serviu sob o seu comando nas Guerras Napoleónicas, nomeadamente em Portugal (1ª invasão);
Até 1964 permaneceu na posse da família do Duque de Wellington tendo sido adquirido por Medeiros e Almeida em leilão da Sotheby’s, Londres, de 1 de Junho de 1964 (lote 64), através do antiquário Robert A. Lee, por £ 27,500.
Maria de Lima Mayer
Casa-Museu Medeiros e Almeida
NOTA: A investigação é um trabalho permanentemente em curso. Caso tenha alguma informação ou queira colocar alguma questão a propósito deste texto, por favor contacte-nos através do correio eletrónico: info@casa-museumedeirosealmeida.pt
Abraham-Louis Breguet, 1747-1823
1808
Paris, França
Ouro, platina, esmalte, aço, metal e vidro
Relógio nº 1226
Diâmetro: 5,7 cm.