Inauguração: 7 Maio / 18h
Patente: 8 – 25 Maio
“No início, existe apenas a tela em branco. A artista atira as primeiras linhas para o rectângulo despovoado até encontrar uma composição que a intuição aprove. Depois, a linha define os planos e é no interior desses planos que a cor começa a abrir espaços e a transformá-los em lugares que possam conter uma história e personagens que a habitem. Por vezes, uma primeira linha acaba por se arrastar para uma história diferente ou é sobreposta por uma outra. Mas as histórias nunca são simples ou lineares, as suas tramas cosem-se com linhas que se entrelaçam.
A procura pela cor dá à artista o norte na busca por uma história que lhe forneça elementos de cor, como o bouquet de uma noiva no retrato de um casamento ou as decorações coloridas no cenário de uma festa popular. As celebrações são quase sempre momentos e lugares saturados de cor e de luminosidade. Nos antípodas destas explosões de cor, estão as pinturas que correspondem a uma tentativa de pintar o imaterial, o informe cujos contornos resistem ao retrato pelo pincel, como o pó de uma superfície ou o vento numa paisagem.
A pintura de Isabel Almeida Garrett localiza-se no ponto de intersecção do abstracto com o figurativo. Por vezes, é a figura que parece surgir a partir do fundo, noutras é o fundo que submerge a própria figura. Esta relação entre primeiro e segundo plano é vital no trabalho da artista, é a ligação onde a fricção se gera e que contribui para que a composição das cores e das linhas no espaço da tela gere uma alusão à técnica da colagem, tão recorrente no dadaísmo e no surrealismo. Essa ideia visual de colagem é conseguida através da apresentação de diferentes níveis de definição das formas, assim como da presença de vestígios do desenho inicial, perceptíveis por entre as camadas da tinta que se lhe sobrepõem. Por vezes, as figuras do fundo emergem para o primeiro plano da pintura, num jogo de inversão da perspectiva que cria ilusões de proximidade e distância. Essa permuta de profundidades confere plasticidade aos espaços arquitectados no interior da tela, reforçando o carácter onírico de alguns dos temas representados.
A invenção da Fotografia no século XIX veio alterar o modo como a pintura explorava a ideia de movimento. O esbatimento das formas passa a fornecer uma percepção visual de deslocação. O movimento latente nos episódios retratados coloca-nos no epicentro de uma acção que se desenrola, e cuja origem e desfecho permanecem ocultos. Este carácter narrativo estabelece afinidades com o cinema, também manifestas na escolha de temáticas que exploram episódios de uma convivência colectiva, em que o humor, o jogo e, por vezes, uma agressividade latente se manifestam.
A obra de Isabel Almeida Garrett é um palimpsesto: a sobreposição de camadas de tinta vai ocultando detalhes para revelar outros, cedendo-nos pistas nas quais procuramos uma ancoragem com a realidade. É a partir desses detalhes, como a posição corporal de uma figura ou um cenário que nos localiza num determinado lugar, que conseguimos, no meio de uma figuração difusa, identificar um gesto, uma emoção e deslindar, por fim, uma história. Trata-se de descobrir o ponto de contacto com o real, de partilha de um vocabulário comum. E um realismo pungente revela-se na paisagem abstracta, os contornos da figura humana destacam-se por entre as manchas de cor. A vida em latência desponta do interior do sonho.”
Bio:
Isabel Almeida Garrett nasce em Lisboa em 1959.
De 1986 a 1989 estuda Design de Moda no CITEX – Centro de Formação Profissional da Indústria Têxtil. Trabalha neste campo até 1998, ano em que lhe é concedida uma bolsa para estudar pintura no AR.CO – uma escola de Arte independente em Lisboa e desde então dedica-se a tempo inteiro à pintura.
Em 2011 participa numa Exposição Colectiva na Galeria Quadrado Azul, em Lisboa. Expõe individualmente em 2013 na Fundação Champalimaud em Lisboa e em 2014 no Palacete Visconde de Balsemão, com o apoio da Câmara do Porto. Em 2015 esteve representada na ArtGenève através da SSArt. Em 2016 participa numa Exposição Colectiva na Bonhams, em Lisboa e individualmente na Casa-Museu Medeiros e Almeida. Em 2018 participa na Colectiva 9:6 da Ocupart também em Lisboa. A “A porta ao lado é aqui que eu moro” foi a exposição mais recente na Casa-Atelier Vieira da Silva.
A forte relação com o corpo humano está sempre presente, tanto no passado na ligação ao Design de Moda, como no trabalho actual em Desenho e Pintura. A sua Pintura torna-se uma matéria emocional que refere para estados de espírito ou percepções emocionais nas relações entre as pessoas.
Contactos: +351 965 619 100
www.facebook.com/artistaisabelgarrett
Sala de Exposições Temporárias
7 - 25 Maio
2ª feira a sábado - 10h - 17h
Entrada Livre (só exposição temporária)